A
Ludicidade na Educação: uma atitude pedagógica
de
Maria Cristina Trois Dorneles Rau
Curitiba:Ibpex;
2011 (Série Dimensões da Educação) 245 p.
Regiane da Costa
Menezes
Graduada em Pedagogia – USP;
Pós Graduada Latu Sensu – UNINOVE;
Mestranda em Educação – UNINOVE;
Professora Ed. Inf. E Fun. I – PMSP.
Maria Cristina Trois Dorneles Rau é mestre em educação
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), sua obra é fruto do
trabalho da autora no curso de pedagogia – EAD, da Faculdade Internacional de
Curitiba. Nela a autora discute os principais fundamentos da ludicidade na
educação e a propõe como recurso pedagógico na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental.
Essa
proposição é feita com base no aporte teórico de Vygotsky (1984) e Piaget (1976),
no que diz respeito a construção do conhecimento e importância do jogo nessa
construção. Sobre a importância do
lúdico no processo de ensino-aprendizado e na formação do educador a autora
dispõe, principalmente, das ideias de Kishimoto (2008), Friedmann (1996) e
Santos (1997).
No
primeiro capítulo, a autora propõe um
estudo sobre as bases teóricas da educação lúdica.
Sua
primeira defesa do lúdico pauta-se na ideia de que a utilização de recursos
lúdicos, como jogos e brincadeiras, auxilia a transposição dos conteúdos para o
mundo do educando e afirma que, em encontros de formação, os professores
ressaltam a importância de jogos e brincadeiras de que participaram quando em
formação inicial, apesar de terem sido raras as oportunidades de vivenciarem o
lúdico em suas formações.
A
definição de Santos (1997) dá um bom respaldo à ideia da inserção do lúdico na
formação do professores quando diz que a formação lúdica se assenta em
pressupostos que valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca
da afetividade, a nutrição da alma e afirma que quanto mais o educador
vivenciar a ludicidade, maior será a chance de este profissional trabalhar com
a criança de forma prazerosa.
Uma
das consequências do estudo da ludicidade é a desmistificação de que a
brincadeira é apenas um passatempo, algo tido como não sério, portanto
desprovido de possibilidade de aprendizagem, ao contrário disso, o jogo ou a
brincadeira, além de proporcionar alegria a alunos e educadores, é capaz de desenvolver
diversas habilidades e construir conhecimentos, importantes para o processo de
ensino-aprendizado.
A
autora apresenta o significado atual do jogo na educação, que segundo Kishimoto
(2008) deve exercer concomitantemente e em equilíbrio as duas funções: a
lúdica, com o objetivo de divertir e dar prazer a quem participa e a educativa,
na qual o sujeito é levado a desenvolver seus saberes, seus conhecimentos e sua
apreensão de mundo.
Ainda
no primeiro capítulo a autora procura trazer as diferenças conceituais
elaboradas por Kishimoto (2008) entre jogo, brincadeira e brinquedo, definindo
jogo como uma ação voluntária da criança, um fim em si mesmo, que não pode
criar nada, não visa um resultado final, importando apenas o processo em si de
brincar que a criança se impõe, já a definição de brincadeira é a de que
trata-se de uma ação espontânea da criança, sozinha ou em grupo, na qual ela
faz uma ponte entre a fantasia e a realidade e o brinquedo como sendo um
objeto, suporte da brincadeira ou do jogo.
Mais
adiante na obra a autora retoma a diferenciação entre jogo e brincadeira,
ficando mais clara essa diferença quando diz que no jogo existem as regras
desde o início e a brincadeira se inicia
a partir da imaginação e a regra é construída no decorrer da brincadeira, de
acordo com a necessidade.
A
partir desse momento no capítulo a autora traz as contribuições de Piaget
(1976) e Vygotsky (1984) com relação a importância da ludicidade no processo de
ensino-aprendizagem e construção do conhecimento.
Piaget
(1976) aponta que o jogo contribui para o processo de assimilação e acomodação
na construção do conhecimento e é fundamental para o desenvolvimento cognitivo,
pois ao representar situações imaginárias, a criança tem a possibilidade de
desenvolver o pensamento abstrato. Propõe quatro sucessivos sistemas de jogos:
de exercício, simbólico, de regras e de construção.
Para
Vygotsky (1984) a brincadeira e o jogo atuam diretamente na zona de
desenvolvimento proximal, possibilitando avanços na construção do conhecimento
da criança quando utilizados com fins educativos e também quando acontecem de
maneira espontânea.
Já no segundo capítulo, a
proposta é falar sobre as implicações da ludicidade no desenvolvimento humano e
na prática educativa.
O capítulo inicia falando
da questão do lúdico enquanto linguagem simbólica: “com relação ao imaginário,
é necessário observar que, em situações de jogos infantis, a imaginação é
explícita e as regras são ocultas; nos jogos do adulto, é o inverso: as regras
são explícitas, e a imaginação é oculta” (p. 82).
Os jogos de faz de conta
auxiliam no controle emocional da criança, faz com que ela adquira mais
autoconfiança, melhor conhecimento de suas possibilidades e limites, com
frequência impostos pela presença de outra criança, com quem ela pode aprender
a cooperar durante o jogo. (p. 84)
Para Piaget (1976) os
diferentes tipos de jogos desenvolvem diferentes sentimentos ou habilidades. O
jogo de exercício sensório-motor desenvolve o prazer de exercer novos poderes
(0 a 2 anos), o jogo simbólico permite a imitação de papéis e a resolução de
conflitos (2 a 6 anos), o jogos de regras possibilita a construção de limites
(6 a 7 anos) e o jogos de construção proporciona uma preparação para as
relações sociais e do trabalho (a partir dos 11 anos). (p. 96)
Já Vygotsky (1984)
considera o jogo como um estímulo à criança no desenvolvimento de processos
internos de construção do conhecimento e no âmbito das relações com os outros.
Em
seguida, no terceiro capítulo, a autora traz os tipos de jogos, suas definições
e contribuições para o desenvolvimento da criança, pode ser considerado o capítulo
mais interessante do livro.
Além
de trazer os tipos de jogos ele propõe uma reflexão sobre como escolher os
jogos e as brincadeiras para os educandos de acordo com suas necessidades e
interesses. (p.144)
O
jogo, como qualquer situação de aprendizagem evoca as áreas cognitiva, social,
motora e afetiva, por esse motivo é natural que os educandos apresentem
dificuldades tais como: ansiedade, competição exagerada, pouca reflexão sobre
as regras, agitação motora, portanto necessita de tempo suficiente, recursos e
metodologias diversificadas.
Nesse
capítulo, a definição de diferentes autores são apresentadas em relação aos
jogos. O mais interessante é que ao final de cada explicação sobre o tipo de
jogo, a autora traz sugestões de jogos e referências sobre onde encontrá-los
(obras) para que seja possível aplicá-lo e utilizá-lo como recurso pedagógico.
No quarto e último capítulo é trazido um
panorama sobre o brincar na educação, as questões da psicomotricidade e a
importância do movimento para o desenvolvimento da criança e os princípios
inerentes a construção de uma brinquedoteca.
A
psicomotricidade é definida como o controle mental sobre a expressão motora.
(p. 197)
A
autora encontra em Wallon (1989) a contribuição para o tema quando esse
descreve que durante a infância psicomotricidade e psiquismo são
indissociáveis.
E
ainda se referencia em Le Boulch (1982) na questão da afirmação da lateralidade
começar por volta dos 6 anos até sua culminância, por volta dos 10 ou 11 anos.
Esse
conhecimento a respeito da psicomotricidade só vem a corroborar a utilização de
jogos e brincadeiras como recurso pedagógico para auxiliar no desenvolvimento
psicomotor da criança.
Com
relação a brinquedoteca, a autora compartilha da abordagem de Friedmann (1996,
p. 40), “é um espaço preparado para estimular a criança a brincar,
possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um
ambiente especialmente lúdico.”
O
capítulo também traz as contribuições de Friedmann (1996) sobre os objetivos que
deve ter uma brinquedoteca: valorizar os brinquedos e as atividades lúdicas e
criativas, possibilitar o acesso a variedade de brinquedos, emprestar
brinquedos, dar orientações sobre adequação e utilização de brinquedos, dar
condições para que as crianças brinquem espontaneamente, criar um espaço de
convivência que propicie interações espontâneas e desprovidas de preconceitos,
entre outros . (p.213)
Por
fim, a obra traz orientações práticas sobre montagem e organização de uma
brinquedoteca, respaldadas nas ideias de Cunha (2007) e Costa (2002).
O
que se pode depreender da obra é a clareza com que apresenta os aspectos que
são desenvolvidos na criança por meio do
jogo ou da brincadeira. Aspectos que são apresentados na obra e constantemente
retomados ao longo da exposição da autora, o que torna a leitura cansativa pela
repetição dos conceitos.
A
autora não desenvolve o tema referente a formação lúdica dos professores, mas
defende essa proposta como importante, tanto na formação inicial quanto
continuada dos professores.
Um
dos diferenciais da obra é o fato de que, ao término de cada capítulo a autora
traz atividades de autoavaliação com questões alternativas sobre os conceitos
trabalhados no capítulo e propostas de atividades práticas para serem
utilizadas em um contexto de formação de educadores.