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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A Ludicidade na Educação: uma atitude pedagógica



A Ludicidade na Educação: uma atitude pedagógica
de Maria Cristina Trois Dorneles Rau

Curitiba:Ibpex; 2011 (Série Dimensões da Educação) 245 p.

Regiane da Costa Menezes
Graduada em Pedagogia – USP;
Pós Graduada Latu Sensu – UNINOVE;
Mestranda em Educação  – UNINOVE;
Professora Ed. Inf. E Fun. I – PMSP.

            Maria Cristina Trois Dorneles Rau é mestre em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), sua obra é fruto do trabalho da autora no curso de pedagogia – EAD, da Faculdade Internacional de Curitiba. Nela a autora discute os principais fundamentos da ludicidade na educação e a propõe como recurso pedagógico na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental.
            Essa proposição é feita com base no aporte teórico de Vygotsky (1984) e Piaget (1976), no que diz respeito a construção do conhecimento e importância do jogo nessa construção.  Sobre a importância do lúdico no processo de ensino-aprendizado e na formação do educador a autora dispõe, principalmente, das ideias de Kishimoto (2008), Friedmann (1996) e Santos (1997).
            No primeiro capítulo, a  autora propõe um estudo sobre as bases teóricas da educação lúdica.
            Sua primeira defesa do lúdico pauta-se na ideia de que a utilização de recursos lúdicos, como jogos e brincadeiras, auxilia a transposição dos conteúdos para o mundo do educando e afirma que, em encontros de formação, os professores ressaltam a importância de jogos e brincadeiras de que participaram quando em formação inicial, apesar de terem sido raras as oportunidades de vivenciarem o lúdico em suas formações.
            A definição de Santos (1997) dá um bom respaldo à ideia da inserção do lúdico na formação do professores quando diz que a formação lúdica se assenta em pressupostos que valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca da afetividade, a nutrição da alma e afirma que quanto mais o educador vivenciar a ludicidade, maior será a chance de este profissional trabalhar com a criança de forma prazerosa.
            Uma das consequências do estudo da ludicidade é a desmistificação de que a brincadeira é apenas um passatempo, algo tido como não sério, portanto desprovido de possibilidade de aprendizagem, ao contrário disso, o jogo ou a brincadeira, além de proporcionar alegria a alunos e educadores, é capaz de desenvolver diversas habilidades e construir conhecimentos, importantes para o processo de ensino-aprendizado.
            A autora apresenta o significado atual do jogo na educação, que segundo Kishimoto (2008) deve exercer concomitantemente e em equilíbrio as duas funções: a lúdica, com o objetivo de divertir e dar prazer a quem participa e a educativa, na qual o sujeito é levado a desenvolver seus saberes, seus conhecimentos e sua apreensão de mundo.
            Ainda no primeiro capítulo a autora procura trazer as diferenças conceituais elaboradas por Kishimoto (2008) entre jogo, brincadeira e brinquedo, definindo jogo como uma ação voluntária da criança, um fim em si mesmo, que não pode criar nada, não visa um resultado final, importando apenas o processo em si de brincar que a criança se impõe, já a definição de brincadeira é a de que trata-se de uma ação espontânea da criança, sozinha ou em grupo, na qual ela faz uma ponte entre a fantasia e a realidade e o brinquedo como sendo um objeto, suporte da brincadeira ou do jogo.
            Mais adiante na obra a autora retoma a diferenciação entre jogo e brincadeira, ficando mais clara essa diferença quando diz que no jogo existem as regras desde o início  e a brincadeira se inicia a partir da imaginação e a regra é construída no decorrer da brincadeira, de acordo com a necessidade.
            A partir desse momento no capítulo a autora traz as contribuições de Piaget (1976) e Vygotsky (1984) com relação a importância da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem e construção do conhecimento.
            Piaget (1976) aponta que o jogo contribui para o processo de assimilação e acomodação na construção do conhecimento e é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, pois ao representar situações imaginárias, a criança tem a possibilidade de desenvolver o pensamento abstrato. Propõe quatro sucessivos sistemas de jogos: de exercício, simbólico, de regras e de construção.
            Para Vygotsky (1984) a brincadeira e o jogo atuam diretamente na zona de desenvolvimento proximal, possibilitando avanços na construção do conhecimento da criança quando utilizados com fins educativos e também quando acontecem de maneira espontânea.
Já no segundo capítulo, a proposta é falar sobre as implicações da ludicidade no desenvolvimento humano e na prática educativa.
O capítulo inicia falando da questão do lúdico enquanto linguagem simbólica: “com relação ao imaginário, é necessário observar que, em situações de jogos infantis, a imaginação é explícita e as regras são ocultas; nos jogos do adulto, é o inverso: as regras são explícitas, e a imaginação é oculta” (p. 82).
Os jogos de faz de conta auxiliam no controle emocional da criança, faz com que ela adquira mais autoconfiança, melhor conhecimento de suas possibilidades e limites, com frequência impostos pela presença de outra criança, com quem ela pode aprender a cooperar durante o jogo. (p. 84)
Para Piaget (1976) os diferentes tipos de jogos desenvolvem diferentes sentimentos ou habilidades. O jogo de exercício sensório-motor desenvolve o prazer de exercer novos poderes (0 a 2 anos), o jogo simbólico permite a imitação de papéis e a resolução de conflitos (2 a 6 anos), o jogos de regras possibilita a construção de limites (6 a 7 anos) e o jogos de construção proporciona uma preparação para as relações sociais e do trabalho (a partir dos 11 anos). (p. 96)
Já Vygotsky (1984) considera o jogo como um estímulo à criança no desenvolvimento de processos internos de construção do conhecimento e no âmbito das relações com os outros.
            Em seguida, no terceiro capítulo, a autora traz os tipos de jogos, suas definições e contribuições para o desenvolvimento da criança, pode ser considerado o capítulo mais interessante do livro.
            Além de trazer os tipos de jogos ele propõe uma reflexão sobre como escolher os jogos e as brincadeiras para os educandos de acordo com suas necessidades e interesses. (p.144)
            O jogo, como qualquer situação de aprendizagem evoca as áreas cognitiva, social, motora e afetiva, por esse motivo é natural que os educandos apresentem dificuldades tais como: ansiedade, competição exagerada, pouca reflexão sobre as regras, agitação motora, portanto necessita de tempo suficiente, recursos e metodologias diversificadas.
            Nesse capítulo, a definição de diferentes autores são apresentadas em relação aos jogos. O mais interessante é que ao final de cada explicação sobre o tipo de jogo, a autora traz sugestões de jogos e referências sobre onde encontrá-los (obras) para que seja possível aplicá-lo e utilizá-lo como recurso pedagógico.
            No  quarto e último capítulo é trazido um panorama sobre o brincar na educação, as questões da psicomotricidade e a importância do movimento para o desenvolvimento da criança e os princípios inerentes a construção de uma brinquedoteca.
            A psicomotricidade é definida como o controle mental sobre a expressão motora. (p. 197)
            A autora encontra em Wallon (1989) a contribuição para o tema quando esse descreve que durante a infância psicomotricidade e psiquismo são indissociáveis.
            E ainda se referencia em Le Boulch (1982) na questão da afirmação da lateralidade começar por volta dos 6 anos até sua culminância, por volta dos 10 ou 11 anos.
            Esse conhecimento a respeito da psicomotricidade só vem a corroborar a utilização de jogos e brincadeiras como recurso pedagógico para auxiliar no desenvolvimento psicomotor da criança.
            Com relação a brinquedoteca, a autora compartilha da abordagem de Friedmann (1996, p. 40), “é um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico.”
            O capítulo também traz as contribuições de Friedmann (1996) sobre os objetivos que deve ter uma brinquedoteca: valorizar os brinquedos e as atividades lúdicas e criativas, possibilitar o acesso a variedade de brinquedos, emprestar brinquedos, dar orientações sobre adequação e utilização de brinquedos, dar condições para que as crianças brinquem espontaneamente, criar um espaço de convivência que propicie interações espontâneas e desprovidas de preconceitos, entre outros . (p.213)
            Por fim, a obra traz orientações práticas sobre montagem e organização de uma brinquedoteca, respaldadas nas ideias de Cunha (2007) e Costa (2002).
            O que se pode depreender da obra é a clareza com que apresenta os aspectos que são  desenvolvidos na criança por meio do jogo ou da brincadeira. Aspectos que são apresentados na obra e constantemente retomados ao longo da exposição da autora, o que torna a leitura cansativa pela repetição dos conceitos.
            A autora não desenvolve o tema referente a formação lúdica dos professores, mas defende essa proposta como importante, tanto na formação inicial quanto continuada dos professores.
            Um dos diferenciais da obra é o fato de que, ao término de cada capítulo a autora traz atividades de autoavaliação com questões alternativas sobre os conceitos trabalhados no capítulo e propostas de atividades práticas para serem utilizadas em um contexto de formação de educadores.

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